Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

COMO SE CHAMA?

Não sei exatamente o que é. Impossível conhecer com profundidade, pois sendo única manifesta-se de formas completamente diferentes. Diria que não é bipolar e sim multipolar. Queria ter a capacidade de entender essa energia forte, intensa, quente, feroz e ao mesmo tempo sublime, altruísta e acolhedora. Penso que todo o ser vivo nasce com esse potencial. Infelizmente em nome desse sentimento e por compreende-lo de forma equivocada as pessoas fazem as maiores loucuras.

Essa idéia parece não fazer sentido, pois sugere forças antagônicas. Mas acredito que tais atitudes loucas, são maneiras distorcidas e psicopatas da manifestação dessa energia, que ao brotar em alguns, os induzem torná-la a defesa de uma causa e transformar um outro nessa causa. Assim aprisionam e tornan-se prisioneiros, e muitas vezes numa explosão de ciúme, comentem os chamados crimes passionais. Tudo em nome dessa mesma energia.

Essa mesma energia, faz com que cada ser tenha forças para viver, e levante-se a cada manhã em busca do pão de cada dia, para suprir as necessidades daqueles que protegem. E esse movimento move o mundo no sentido econômico se o colocarmos numa macro dimensão elevado a uma enésima potencia.

É essa mesma energia que embeleza, liberta, provoca sorrisos e lágrimas tornando a vida mais doce, mais amena. É essa mesma energia da abnegação, do estender da mão, da solidariedade. É essa mesma energia do coração acelerado; da respiração ofegante; do brilho no olhar; das juras eternas; da espera; do encontro; dos lábios que se buscam e unem-se. É essa mesma energia que promove a famosa e nobre vitória do mais esperto espermatozoide chegando em primeiro lugar no disputado óvulo.

É essa mesma energia que faz cada flor exalar um perfume, e vestir macios tons coloridos tentando atrair insetos que disseminem seus pólens perpetuando suas espécies. É essa mesma energia que provoca o cio da terra e dos animais.

Como considerá-la mortal se a cada dia se renova em algum lugar? Quem já a sentiu jamais esquece sua força imensa, mesmo que o tempo passe e ela enfraqueça. Pode até renascer com mais vigor, de uma nova maneira, por outro alguém num outro além, mas certamente essa mesma energia permanece até o infinito. E é infinita porque impregna-se na memória, pois pode-se mudar constantemente, mas esquecer jamais...

Não estou conseguindo lembrar o nome dessa seiva tão poderosa. Você pode me ajudar? Só sei que é a mesma energia que emerge no seu coração, quando a noite você olha seu pequeno filho no leito, com as faces coradas, entregue ao sono dos justos, depois de aprontar todas as travessuras durante o dia. Como se chama mesmo essa energia? É a mesma energia que...

Ceres.

Celulares em Cana

CELULARES EM CANA!



Depois dizem que o Brasil é o país da piada pronta. Ou que os brasileiros não levam algumas leis a sério. Quiçá, todas. Também pudera, nossos legisladores muitas vezes são uns fanfarrões. E nem precisam colocar peruca e bigodinho tal qual o palhaço Tiririca. Bastam fazer patifarias nas Câmaras e Assembleias. Coisas como a lei que proíbe a utilização de celulares dentro de agências bancárias. Querem evitar o crime “saidinha de banco” punindo a população. Talvez, esses doutos legisladores preferem que, na Era da Web 2.0, em que Orkut, Facebook, Twitter e outras engenhocas são atualizados por cliques no aparelho celular, as pessoas fiquem na fila a fazer palavras cruzadas enquanto esperam serem chamadas pelo caixa. Quem sabe uma partidinha de dominó? Até se joga. Na ponta do celular com tela touchscreen ou quebrando a cabeça com Sodoku.


Ocorre que a lei não “deu liga” em Curitiba. Constatei isso em uma agência bancária, logo após atender a ligação de um amigo sem me dar conta de que eu poderia ser preso ou convidado a me retirar do recinto. Afinal, eu era reincidente. Havia cometido a infração outras três vezes em cinco minutos ao ligar para minha noiva, depois receber ligação dela e, por fim, ler a mensagem que havia solicitado. Sentia-me um criminoso contumaz. Teimoso, mas não burro. Pois levaria para o xadrez comigo a moça que falava desinibida à frente e o rapaz que falava baixinho um pouco para trás. Também arrastaria comigo a mocinha que ouvia música e balançava a cabeça e o homem que tinha o queixo quase que enfiado no peito para fixar a atenção num game que não consegui identificar. Era, realmente, um bando, uma quadrilha a agir livremente sem sinal de incomodo dos outros clientes, funcionários ou vigilantes.


E se crime pouco não basta, dei-me licença para cometer mais duas sortidas infrações. A primeira foi ler a mensagem de minha noiva com o número de sua conta bem na frente do caixa. Nada fez. Nem um teco de espanto. A segunda proeza foi tirar uma foto do local com meu celular só para ilustrar esta crônica. Fui à forra! Porque em cana ninguém me leva. Sei que lá os celulares também são liberados...
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Manolo Ramires
bloginparana.wordpress.com
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domingo, 24 de outubro de 2010

...E TERNA, MENTE ETERNAMENTE

Lembro-me como se tudo tivesse acontecido amanhã. Era um belo dia estrelado e enfeitado pela lua cheia de ser lua. O mês se não me engano era abritubro, mas o dia era trinta de fevereiro de algum ano qualquer. Você vinha, eu ia e nos encontramos na esquina da rua inexistente, naquela chuva copiosa, com o sol escaldante na escuridão da noite.
O outono cobria tudo com flores frescas e refesteladas. Nossas pupilas encontraram-se e brilharam muito. Quase incendiaram o planeta. Então você me disse com a ternura de um eterno embriagado: -Enfim encontrei a musa que sempre procurei! Estonteada de felicidade, pois um pouco antes também havia ingerido vários copos do néctar dos deuses respondi: - Parece um sonho - esfregando os olhos continuei. - Saí em busca do meu horizonte e encontrei você, na vertical bem na minha frente! Depois de um longo e ardente beijo, de mãos dadas caminhamos em direção ao nada, pois nada mais importava além dos nossos dedos entrelaçados e de nossos corações descompensados. E assim começamos correr, correr, correr e quando percebemos já não corríamos, mas voávamos. -Para onde voamos? Perguntei.
-Voamos até o infinito elevado a enésima potencia do absoluto absurdo!
-Não entendi nada, mas vou para onde você me levar... Conhece o caminho?
-Nenhum caminho. Mas pare de falar e sinta o aroma inebriante do silêncio. Ouça o brilho das estrelas que já se apagaram. Veja o colorido som dos crocodilos.
-Mal nos conhecemos e você já me manda calar a boca?
-As mulheres falam demais. É por isso que toda a magia infinita é tão efêmera, e aquilo que penso sentir, se é que penso, pois nem sei se existo evapora-se de repente. É um sentimento frágil e tem vida breve, como chamam a chama.
- Hahaha! Quero só ver você encontrar outra aqui nessas alturas. Se bem que isso tudo está tão louco, que você pode até achar outra aqui nessas alturas, mas não que esteja á minha altura...
- Mulheres... Todas loucas.
-Pode ser, mas não é bom uma loucura?
-Mas as loucuras são imortais. Portanto, temos que tomar cuidado...
-Mudou a prosa agora? Mas que barulho é esse?
-Meu celular. Temos que voltar, pois esqueci que estava indo para a cerimônia do meu casamento quando nos encontramos. Minha ex noiva, gravidíssima, já está na maternidade com meus três pimpolhos no ventre. Eles estão nascendo. Mas ante... Preciso conversar com aquela anjinha de asinhas douradas que está sentadinha naquela nuvem. Talvez ela aceite aterrissar com a gente...
Ceres.

sábado, 23 de outubro de 2010

Aquele amor meu e de Vinícius de Moraes (Opus 23)

Aquele amor, na realidade, naufraga em lágrimas quando deixado e bóia nas lembranças pedindo socorro – aquele amor.
Aquele amor, quando vem com os olhos e beijos cheios de adeus, é a indiferença que foi à causa. Mas ainda se escuta o som da blusa decotada, o silêncio do sexo ardendo. O amar em excesso nos torna amantes de nós mesmos, e certo dia somos seduzidos. Pouco a pouco tudo se converte em um. Nada de par naquele amor, só outro para alimentar a razão.
Aquele amor não é único, sofre mutações quando encontrado, então se desapegue da forma e viva o que existe, goze naquele amor.
Aquele amor, mister é uma mulher só com lágrimas; pois ser com muitas, poxa! É de facada... – vão te cobrar pedágio.
Aquele amor, na forma de nove, é infinito enquanto dura. Fidelidade a prova, flores na tarde morna – aquele amor.
Aquele amor, exige tomar vinho também (com uma enochata não se arrisque!) e ser decantado entre seus lençóis – quer tudo sobre amor.
Aquele amor necessita de um cafajeste fiel, um sujeito único com muito amor – aquele amor.
Aquele amor ainda sai do peito, arde em lágrimas que marcam a face. Que perdoe assim a falta de amor – aquele amor.
Mas aquele amor agora necessita de outro homem para ser vivido o grande amor – aquele amor.

O bem que conhecemos (Opus 21)

Você sabe o bem, não é tão suportável quanto muito se ovaciona. Instala-se nas entranhas do viver por pura necessidade, ilusão. Possui uma força oculta, certo que de maldade.
Aquela bem que conhece fez de mim o melhor. Entornou-me, fez derramar do peito a emoção. Mas nenhum bem é duradouro, pois termina sempre na curva da maldade. Felicidade é o mal dos lúdicos e irônicos escritores, que geram mazelas que habitam os poros da bondade.
O bem só existe quando o mal te castiga, e a nostalgia é a maldade escondida em belos pensamentos, mata esperanças. Não existe, mas como é bom procurá-lo.
Passei uma segunda por causa dele, desparafusei as idéias. Quem me dera deixar de ser substantivo e tornar-me adjetivo. Ser alguém com o bem, não um muro de vergonha.
O bem e o amor não se impõem, acontece. O poder aquisitivo do bem fica a cada ano mais rarefeito, enquanto a emoção amadurece a fórceps. São diferentes níveis de amadurecimento que nos afasta de pessoas mesquinhas, feias de coração.
A verdade é que a visão distorce a realidade, e por momentos não somos capazes de sentir o bem. Quando se arma com a raiva afasta-se a razão, perde assim o bem que habita na alma.
A questão é que ainda sinto a placenta me envolvendo. Escuto verdades, mas o que me consola são as mentiras. Então, não tenha medo da realidade que te contorna, mas sim das sombras da falta do bem no interior.

Escrever crônica (Opus 21)

Escrever e não ler não dá o que comer dizia meu avô, e assim meio perverso busco falar ao interlocutor. Formas e detalhes característicos invadem a mão, e se desenha na mente no ato de escrever, mas basta o estalo e se pulveriza. Perco a idéia central, fujo da crônica
Deve saber que perfeição não existe, mas a linguagem por vezes trava pensamento.
Julgo ser persistente, mas o discurso que deve ser leve entorna na vírgula errada, no ponto mal acabado. O final épico sempre é desastroso.
Deve entender que ao criticar o escrito, que na maior parte das vezes é invenção, são tolices do cotidiano. O humor que se emprega pode ser emprestado de fotografias de Polaroid urbano.
Entendo que pode ficar bravo, e bravo fico se da crônica acabo em conto.
Crônica é esperança de todo escritor, que de tonto fica frouxo de desejo para escrever. Não tem forma, e é como o verão deve ser; leve e frutado. Não é bula de remédio, e se fosso remédio o seria para depressão, autismo.
Para ler deve ser fácil, mas é difícil de ser construído, imaginar. Vem de cesariana, parto pré-maturo e às vezes de combustão espontânea.
Escritores a amam, como os amores que se busca para viver, e que diga nosso amigo Vinícius de Moraes.
Ela não nasce em hospitais, mas sim das safadezas das esquinas da criação. É prazer, e sem o leitor não tem gozo.
Para outras formas de escritas até que tem receita, mas para a crônica não. Se aceita pela fé, não é ciência.
Crônica é uma mulher amando; um homem sem algo em que acreditar; tesão; um curitibano amando, curitibando; pegadinha; para seres de alma livre; um eterno amante; uma vida aberta para o desejo; uma brincadeira de criança; um exercício de felicidade.
Crônica é você leitor, que acabou de torná-la realidade.

Sobre o amor que não existe (Opus 20)

Caro amigo nem sempre somos felizes, pois felicidade é transitória. Em regime permanente somente a dúvida, e a dor que sinto corta-me o ar. A perda é sincera. O amor falso, dissimulado. Não acredite no amor, mas sim na dor; reta e fatal.
Não desejo ficar sem dor, quero vento ao rosto, viajar. Observar a arvore pela janela do carro, sonhar com um novo amor. Uma vida necessita de amor. Não quero desapontar você, mas necessito acreditar em algo para viver.
Desejo o presente da paixão, coração desgovernado. Quero a maciez dos cabelos, os beijos dela. Não permita que o tempo torne a vida árida, seca de alegria.
Um amor, uma vida e uma esperança perdida.
Amor e dor são irmãos de alma, inimigos de destino. Nunca se vive o suficiente para descantar a dor. Nunca sofremos o necessário para viver um grande amor.
Seu nome nunca se esquece, e será pronunciado pela última vez antes de morrer. Nas nuvens se deitará ao seu lado para poder aplacar a excitação desmedida da alma.
Um dia ainda se culpará pelo mal causado ao coração, mas a vida é cruel não aceita ser dividida. Compartilhar é possível, dividir não. Assim é o amor, que dure enquanto for infinito...
Tem dias que é melhor viver do que ser feliz.
Não degustarei mais meu vinho preferido, avinagrou. As lágrimas antes analisadas, hoje cortam o peito feito álcool na ferida exposta.
O rádio da alegria cessou, perdeu a estação da felicidade. A onda levou para o fundo, e não vejo a superfície, não vejo seu rosto.
Necessito oxigenar os olhos, passar um rodo nas lágrimas desobedientes. Voar pelos cantos esquecidos da lua, ignorar o sol do sorriso dela.
Necessito sim, de um beijo amigo para ignorar a verdade exposta em olhos afogados de desespero.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Suor (Opus 19)


Isolada o suor escorre frouxo pelas paredes; frio que se esvai pela natureza; pressão que asfixia a vontade; bolhas de pensamentos choram pela falta de liberdade; suor esfria escovado pelo vento; esbelta e formosa gera cede de frescor; suor que brilha pelo efeito da luz; luz covarde ataca, enfraquece; reflexos de cor vermelha, desejo; lampejos de vulgaridade, necessidade; suor banha o corpo tonto ao chegar; medo da exposição; rajadas de ar para provocar arrepio; gotas solitárias para se acariciar; não tem celulites, firme; bendita garrafa pet de framboesa que não se abre.

sábado, 16 de outubro de 2010

Situação de Emergência

No maior sufoco, morrendo de medo liguei para emergência, pois naquelas alturas do campeonato não havia outra saída. Certamente estaria segura, pois seria atendida pelos profissionais mais sérios e bem preparados da cidade.

Para meu alento, do outro lado da linha inicia uma suave musica clássica de fundo... Interminável... Enquanto uma voz eletrônica tranquila, pronunciava docemente: "procure manter a calma... Respire fundo... Tenha em mãos seu RG e CPF. Está certo que a situação é mesmo uma emergência? Calma... Você não está só... Vamos ajudá-lo..." E a odiosa, insuportável, torturante musica continuou por mais alguns segundos que para meu desespero pareciam horas. Finalmente alguém atendeu.

- Emergência! por favor diga seu nome e RG.
- Tem um ladrão entrando no quintal da minha casa!
- Seu nome e RG, senhora!
- Não lembro do RG. Só um pouco, pego já na bolsa - documento em mãos. Número murmurado com voz tremula. -Venham rápido estou com muito medo!
- Seu endereço... Pânico total. Endereço disparado como um raio.
- Tem certeza que se trata de um ladrão?
- Claro! Ele já pulou o muro e está dentro do quintal...
- Será que não se trata de uma brincadeira de algum amiguinho de seu filho?
- Não tenho filho, e se tivesse ele não teria amigo filho da puta para pular o muro!
- A Senhora está muito nervosa... Seu marido está em casa?
- Não!!!!
- Veja bem Senhora, estamos sem viatura no momento. Pela sua história parece ser só um ladrão de bugiganga ou de galinhas. Não deve ser violento. Com certeza ele não vai fazer nenhum outro mal, além de roubar algumas coisinhas do quintal. Só podemos atender emergências urgentes mesmo, tipo assassinatos ou assaltos.
- Moço, não tem bugiganga e muito menos galinhas no meu quintal! Estou vendo pela janela... Ele parece perigoso sim, e não está sozinho... Estão em dois e se aproximando de casa...
- Mantenha as portas fechadas. Fique calma. Ligue para algum vizinho, pois é nessas situações que a gente vê quem são os bons vizinhos mesmo. Como já expliquei para a Senhora, vou repetir e trepetir se for preciso: estamos sem viatura. Não temos como ir até aí.
- Não precisam mais vir moço! Tenho uma arma com silenciador em casa e enquanto o Senhor falava asneiras, matei os dois. Podem ficar tranquilos e amanhã vocês recolhem os corpos.

Menos de cinco minutos depois havia duas viaturas da policia em frente a minha casa, e vários policiais. Chegaram a tempo de prender os vagabundos em flagrante. Depois de desarmá-los e algemá-los, um dos homens sérios responsáveis pela segurança dos cidadãos de bem, perguntou solenemente com ar de repreensão: - A Senhora não disse que tinha matado os ladrões? Sabe as consequências de dar um alarme falso para autoridades?
- E o Senhores não tinham afirmado que estavam sem viatura?!!!

Ceres.

domingo, 10 de outubro de 2010

Frases Feitas e Desfeitas.

Saí para matar o tempo mas alguém já tinha feito o serviço. Então, desapontada chovi no molhado, naquele solo devastado pela águas abusivas, que invadiram a cidade no silêncio da noite que se vestia com o ar glacial.

Não encontrei a pessoa que estava colhendo a tempestade nascida do vento que um dia havia semeado, mas me dei conta de outros fatos sem importância que agora divido com você. Divido não, empurro pois são coisas insignificantes que não interessam a ninguém e de tão repetidas estão desgastadas.

Devemos sorrir sempre, a vida é bela. Olhe para as favelas. Olhe para as crianças famintas de todos os cuidados, paradas nos sinais. Tão abusadas e abusivas tentando roubar alguém. Perceba quanto ódio existe naqueles olhos infantis. Infantis aqueles olhos?! Veja na rua de cima as prostitutas ainda meninas que oferecem seus corpos em desenvolvimento. Um esperto lucra com esse doce comércio. Sim, a vida é bela, sorria! A esperança é a última que morre, pois você sempre perece antes. E a senhora esperança gargalha de sua fé dizendo num sussurro zombador: otário! Isso é clichê, quem espera nunca alcança.

O que vale é a beleza interior. Claro, desde que seja o interior de uma mansão decorada com quadros valiosíssimos, tapetes persas e lustres de cristais. Agora, se você for pobre, careca, baixinho, obeso e mal vestido o ditado não lhe cabe mesmo que o senhor seja genial e tenha uma alma generosa. A falta de dinheiro nunca traz felicidade. Nem pense em ser feliz com um salário mínimo, morando num subúrbio, cinco filhos em volta e um aluguel para pagar. As luzes? Já cortaram há muito tempo. Principalmente aquelas do final do túnel. A escuridão é total e não há saída. O trem se aproxima e vai esmagar tudo o que estiver na frente.

Não diga com quem anda, pois ninguém quer saber quem é você. Essa verdade é sua apenas e deverá ser escondida. Macaco velho e colocou a mão na cumbuca? Vencido pela fome, pelo ódio enganado foi enganado e engaiolado. Feito o bem. Bem feito?

Vendo bons conselhos. Tenho aqui na minha bolsa ótimos, fresquinhos. Faço descontos especiais. Aproveite! Devagar não se vai longe, então pare de vagar. Ande rápido, corra. Nunca faça o eu digo e jamais faça o que eu faço. É loucura! Brinque com fogo para se queimar e queime-se muito. Aja. Não pense. Pensar o que? Pensar por quê? Aja sem pensar. Aja, mesmo que seja sob um comando insano. Não pense, não reaja. Aja...

Não tinha sementes de girassol, então plantei um gira sol e entrei numa fria, pois nasceu um gira lua. A chuva encobriu a lua e a flor morreu por não ter a quem seguir. Morreu afogada.

Olhe o trem... Está próximo, está chegando, apitando. Vai comprimir tudo. Estraçalhar todos nesse túnel sem saída.



Ceres.