Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

sábado, 16 de outubro de 2010

Situação de Emergência

No maior sufoco, morrendo de medo liguei para emergência, pois naquelas alturas do campeonato não havia outra saída. Certamente estaria segura, pois seria atendida pelos profissionais mais sérios e bem preparados da cidade.

Para meu alento, do outro lado da linha inicia uma suave musica clássica de fundo... Interminável... Enquanto uma voz eletrônica tranquila, pronunciava docemente: "procure manter a calma... Respire fundo... Tenha em mãos seu RG e CPF. Está certo que a situação é mesmo uma emergência? Calma... Você não está só... Vamos ajudá-lo..." E a odiosa, insuportável, torturante musica continuou por mais alguns segundos que para meu desespero pareciam horas. Finalmente alguém atendeu.

- Emergência! por favor diga seu nome e RG.
- Tem um ladrão entrando no quintal da minha casa!
- Seu nome e RG, senhora!
- Não lembro do RG. Só um pouco, pego já na bolsa - documento em mãos. Número murmurado com voz tremula. -Venham rápido estou com muito medo!
- Seu endereço... Pânico total. Endereço disparado como um raio.
- Tem certeza que se trata de um ladrão?
- Claro! Ele já pulou o muro e está dentro do quintal...
- Será que não se trata de uma brincadeira de algum amiguinho de seu filho?
- Não tenho filho, e se tivesse ele não teria amigo filho da puta para pular o muro!
- A Senhora está muito nervosa... Seu marido está em casa?
- Não!!!!
- Veja bem Senhora, estamos sem viatura no momento. Pela sua história parece ser só um ladrão de bugiganga ou de galinhas. Não deve ser violento. Com certeza ele não vai fazer nenhum outro mal, além de roubar algumas coisinhas do quintal. Só podemos atender emergências urgentes mesmo, tipo assassinatos ou assaltos.
- Moço, não tem bugiganga e muito menos galinhas no meu quintal! Estou vendo pela janela... Ele parece perigoso sim, e não está sozinho... Estão em dois e se aproximando de casa...
- Mantenha as portas fechadas. Fique calma. Ligue para algum vizinho, pois é nessas situações que a gente vê quem são os bons vizinhos mesmo. Como já expliquei para a Senhora, vou repetir e trepetir se for preciso: estamos sem viatura. Não temos como ir até aí.
- Não precisam mais vir moço! Tenho uma arma com silenciador em casa e enquanto o Senhor falava asneiras, matei os dois. Podem ficar tranquilos e amanhã vocês recolhem os corpos.

Menos de cinco minutos depois havia duas viaturas da policia em frente a minha casa, e vários policiais. Chegaram a tempo de prender os vagabundos em flagrante. Depois de desarmá-los e algemá-los, um dos homens sérios responsáveis pela segurança dos cidadãos de bem, perguntou solenemente com ar de repreensão: - A Senhora não disse que tinha matado os ladrões? Sabe as consequências de dar um alarme falso para autoridades?
- E o Senhores não tinham afirmado que estavam sem viatura?!!!

Ceres.

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