Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

domingo, 28 de março de 2010

Revelações Secretas.

- Não, não pode continuar desse jeito... Não suporto mais esta treva.Vou acabar com tudo isso agora mesmo. Lá do oitavo olho para baixo. Sinto tontura.Fecho os olhos... E num desses momentos de total desequilíbrio, meu corpo despenca lá de cima em direção ao solo.

É nessas circunstâncias que em poucos segundos, inconscientemente, fazemos uma retrospectiva de momentos marcantes de nossas vidas... Como um corpo em queda livre tem uma aceleração constante e uniforme, vou usar dos meus direitos de reproduzir essa queda em câmara lenta, com alguns congelamentos de imagens em momentos específicos. Só assim poderei confessar o inconfessável.Relatos que só vem a tona em situações cruciais.

Aos três anos de idade, matei meu professor de geografia só por que o pobre falou que Maceió era uma cidade litorânea, capital de Alagoas localizada na região nordeste do país. Insistentemente, ele dizia que tal palavra não significava alguém em crise de piti,que após ter amassado vários papéis exibe-os com ar de vitória: amassei ó! Após a execução, depositei o corpo do infeliz numa caixa cor de rosa onde guardava os brinquedos que me davam problemas.

Na semana seguinte, fiz uma operação macabra permutando as cabeças de duas bonecas: uma loura e outra morena. Ela odiaram, choraram mas mesmo assim mantive a troca pois achei que ficaram lindas.

Aos quatro anos(congelar imagem)matei minha professora de história, pois ela insistia que não havia rei na Rússia e muito menos príncipes ou princesas.Coloquei seu corpo na mesma caixa cor de rosa que ocultei o professor de geografia.

Aos cinco anos, matei Papai Noel por razões óbvias: ele simplesmente não existia! O danado continuou me trazendo presentes mesmo depois de morto.

Aos doze, me apaixonei perdidamente por meu professor de matemática de quarenta e dois. Descobri que ele era casado com uma louraça comprida, com ela havia dividido e multiplicado.Dessa operação resultou em dois moleques mal encarados.Desolada, decidi tentar suicídio devorando uma tigela imensa de gelatina de morango. Gelatina light,pois não queria engordar. A tentativa foi frustrada, mas o conteúdo da tigela estava uma delicia. Lembro até agora de ter raspado com a colher os últimos vestígios daquela maravilhosa iguaria adornada com frutas vermelhas.

Aos quatorze anos eu...Não! Não vai dar tempo...Brammmmm...Ai,ai, ai que dor!!! Meu traseiro vai de encontro ao tapete da sala de estar, e a escada capenga cai estrondosamente para o outro lado.

- Eu sempre disse que odiava trocar lâmpadas! Ai que dooor!


Ferdinanda Embrião.

Um comentário:

  1. Ai ai ai, vou tomar cuidado com o que falo em sala de aula...
    :)
    Ótimo texto, Ceres.

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