Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Sorte do Cavalo.

Não, nunca tive muita sorte mesmo. Acho que ela foge de mim. Ah, não é nada disso! Refiro-me a sorteios ou votações para escolha de algo. Isso foi comprovado na última oficina de crônicas na Fundação Cultural.

Primeiro fizemos um trabalho de laboratório, isto é, passear pela Praça da Ordem pesquisando, olhando a feirinha e o movimento em busca de inspirações. Tarefa agradável! Noite quente. Acolhedora. Risonha. Enfeitada pelas mais diversas e inusitadas figuras. As imagens e idéias pulavam em minha frente como crianças sapecas.

Com o entusiasmo de principiante e a discrição de um detetive de comédia americana, observo tudo em volta. Olho o cavalo que não sei por que chamam de babão se nem sempre ele baba. Naquela noite por exemplo não babava, talvez por pura revolta. Isso fazia que parecesse mais, muito mais bocudo e dizendo palavrões. Aliás, nunca soube direito se aquele troço é um cavalo ou um burro! -Vocês sabem? Mas vamos combinar: existem sábios burros da espécie equina, e muitos humanos que se acham sábios e são... Bem, melhor deixar prá lá. Fiquei olhando a escultura. Que cara assustadora! Aquele ser pétreo parecia estar puto da vida e impossibilitado de chutar qualquer balde, por ter sido colocado, pela ironia do destino, em condição de estátua. Imaginei-o fazendo um discurso: certamente falaria sobre o odor dos salames da banquinha a poucos metros de onde ele está plantado. Reclamaria da mosca sem vergonha, que depois de explorar coisas não mencionáveis por serem fétidas como cocô, pousou despreocupada naquelas iguarias avermelhadas. (cena testemunhada por um colega) Faria ponderações sobre a gordura trans contida nos deliciosos pastéis, fritos na hora em óleo poli multi reutilizado por inúmeras mais de mil vezes. -Adoro aqueles pastéis! E claro, faria um belo discurso. Conquistaria votos para alguma eleição, ou pelo menos os ouvidos de alguém por alguns minutos. Coisas que comigo não acontecem.

Pois é, terminando a pesquisa retornamos a sala de aula. Depois de alguns leros (leros importantes!) a professora decidiu fazer uma votação para escolher o nome do nosso blog. Entre vários listados, sugeri Livre Mente que a meu ver, significa a liberdade para criar e expressar. Adivinhem se a sugestão teve algum voto... Pois erraram! Teve dois: o meu e o de uma colega. Ah! Mais um episódio ratificando minha tese: alguém falou que Livre Mente soava coisa de maconheiro!!! Enfim, o nome escolhido foi: Da Boca do Cavalo. Ainda bem que a maioria acha que a estátua é um cavalo, pois senão ficaria: Da Boca do Burro. (Burro sábio é óbvio)

Se eu fosse candidata a algum cargo, teria apenas o meu voto. Isso se eu mesmo, por compaixão, não resolvesse votar em outra pessoa pouco sortuda.
Mas vamos ficar atentos, sempre ouvindo o que o cavalo tem a nos dizer.


Ferdinanda Embrião

Um comentário:

  1. Éxcelente. Teu texto fluiu rápido e com sabor de pão quentinho. E adoro um, especialmente junto com o café. Acabei viajando e imaginei o cavalo se voltando à banquinha e devorando os salames, cagando em cima das baratas do Barva Ruiva e Livremente rindo do meu vento imaginário. Aguardo o próximo!!

    abs

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