Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Curitiba (Opus 14)

Detesto Curitiba.      
Lá pela manhã, ao ir para o trabalho, já sou entubado. Aguardo poucos minutos e começo a figuração na lata de sardinha, que mais parece à embalagem daquela com molho de tomate. Vermelho. Não bastasse isso a dita condução se move feito cobra cega, ou melhor, um gigantesco minhocão. Por sorte tem um caminho único, só para ele. Imagine se locomover entre os carros nas ruas já inchadas.
Mais mudanças ocorrem e os carros aqui já estão ficando bipolares. Foram doadas rotas de fugas, melhor, os chamados binários. O que ainda é um câncer em Curitiba são os mosquitos de aço, as motos. Digo que não têm culpa nenhuma estes seres, pois são destinados aos espaços vazios entre os carros. É claro que existem os maníacos que em motos são piores que em carros, ou na direção da lata de sardinha.
Voltando aos entubados. O máximo, o clímax é chegar à UTI de integração, os terminais. Lá habitam todos os entubados: alegres, religiosos, céticos, mal humorados (grande maioria), namorados… Curitiba se acha, e hoje ninguém se encontra neste caos. Da moderna e exemplar, hoje se apresenta caótica, travada e burocrática. Findou-se a saudosa Curitiba, onde podíamos nos divertir num simples passear, num café na Confeitaria das Famílias. Hoje um vazio invade a todos.
Conta-me um amigo; o que mais lhe assombra é o espaço de tempo entre sua chegada em casa, e a chegada de sua esposa. O silêncio parece cortar feito diamante, e nesse tempo só tem a seu cachorro que nada fala. Nestas horas o tempo não se contrai, dilata. Toda agitação do dia se desfaz. O silêncio antes esperado, agora fica agonizante. É assim, hoje o vazio na cidade assusta, outrora era predominante e confortava.
               Mas como sou um inveterado saudosista tenho de confessar que amo Curitiba, pois o verdadeiro amor só existe pelos defeitos, sejam pelo excesso de beleza ou pela falta de sentido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário