Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Memórias de criança (Opus 13)

Quando pequeno sempre fui dado a travessuras. Os corretivos assumiam diversas formas, e em certa época veio na forma de dar medo. Entrei na linha. Foram tantas as aventuras que destoa da pessoa educada de hoje.
Um clássico foi à tentativa cientifica de criança em comprovar as sete vidas de um gato. Num dia amarrei um tijolo na perna do infeliz e delicadamente o joguei rio abaixo. Pobre bicho morreu. Deduzi que as outras seis já havia gasto, e dei o primeiro experimento finalizado. Aí, mamãe me achou.
Tem uma que o meu irmão não esquece. Nos finais de tarde pegávamos a varas de pescar do papai, e sentados na varanda da casa tínhamos a pescaria invisível. No balanço, num ir e vir arremessávamos na busca do peixe imaginário. Divertíamos muito, mas eis que, quem vos fala não poderia deixar em branco. Num lance digno de cinema, a linha foi para traz e na volta cravo o anzol nas bochechas rosados de meu irmão. O pior que só percebi, quando depois de duas puxadas a linha não veio. Olho para traz e vejo meu irmão na cor branco fosco, e então minhas pernas se afrouxaram, o sangue foi tudo para os pés. Matei meu irmão! Desandei a chorar e sai correndo. Aí, mamãe me achou.
Outro dia, ovos voaram pela cozinha, era eu tentando acertar meu irmão. Brincávamos de guerra, e nossas bombas explodiam de modo a dar gosto. Teve uma que tinha até gás paralisante... Foram duas dúzias que deveria durar o mês todo. A cozinha ficou como um campo de guerra, suja que só vendo. Bem, aí mamãe me achou.
Noutra vez, final de tarde, o carreto com a lenha chegou, o que também devia durar um mês. Calma, não queimei tudo... Seu Pedro deixava em frente a nossa casa, e tínhamos que colocar para dentro do quintal. Então, eu e minha criatividade sedutora bolamos o arremesso de peso. Imagina, um perfeito atleta juvenil. Certo dia papai chegou mais cedo e nos ajudou. Eu, eu mesmo, em um de meus potentes arremessos acerto a nuca do veio, melhor papai. Vixe! Já era calvo, e toma uma paulada... Papai virou com os olhos saltando pelo rosto. Eu? Quase me mijei todo. O que fiz? Vazei. Bati em retirada, mas aí mamãe me achou.
Quando mamãe me achava não tinha escapatória.
Agora, já no ano de 2010, em visita a casa da mãe as lembranças enchem os olhos deste quarentão. A cobertura da casa acumula as provas das travessuras. Ainda está forrada de tocos de mangueira, como chicotes domésticos, a única forma de por na linha aquele menino tão inocente e puro.

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