Quando pequeno sempre fui dado a travessuras. Os corretivos assumiam diversas formas, e em certa época veio na forma de dar medo. Entrei na linha. Foram tantas as aventuras que destoa da pessoa educada de hoje.
Um clássico foi à tentativa cientifica de criança em comprovar as sete vidas de um gato. Num dia amarrei um tijolo na perna do infeliz e delicadamente o joguei rio abaixo. Pobre bicho morreu. Deduzi que as outras seis já havia gasto, e dei o primeiro experimento finalizado. Aí, mamãe me achou.
Tem uma que o meu irmão não esquece. Nos finais de tarde pegávamos a varas de pescar do papai, e sentados na varanda da casa tínhamos a pescaria invisível. No balanço, num ir e vir arremessávamos na busca do peixe imaginário. Divertíamos muito, mas eis que, quem vos fala não poderia deixar em branco. Num lance digno de cinema, a linha foi para traz e na volta cravo o anzol nas bochechas rosados de meu irmão. O pior que só percebi, quando depois de duas puxadas a linha não veio. Olho para traz e vejo meu irmão na cor branco fosco, e então minhas pernas se afrouxaram, o sangue foi tudo para os pés. Matei meu irmão! Desandei a chorar e sai correndo. Aí, mamãe me achou.
Outro dia, ovos voaram pela cozinha, era eu tentando acertar meu irmão. Brincávamos de guerra, e nossas bombas explodiam de modo a dar gosto. Teve uma que tinha até gás paralisante... Foram duas dúzias que deveria durar o mês todo. A cozinha ficou como um campo de guerra, suja que só vendo. Bem, aí mamãe me achou.
Noutra vez, final de tarde, o carreto com a lenha chegou, o que também devia durar um mês. Calma, não queimei tudo... Seu Pedro deixava em frente a nossa casa, e tínhamos que colocar para dentro do quintal. Então, eu e minha criatividade sedutora bolamos o arremesso de peso. Imagina, um perfeito atleta juvenil. Certo dia papai chegou mais cedo e nos ajudou. Eu, eu mesmo, em um de meus potentes arremessos acerto a nuca do veio, melhor papai. Vixe! Já era calvo, e toma uma paulada... Papai virou com os olhos saltando pelo rosto. Eu? Quase me mijei todo. O que fiz? Vazei. Bati em retirada, mas aí mamãe me achou.
Quando mamãe me achava não tinha escapatória.
Quando mamãe me achava não tinha escapatória.
Agora, já no ano de 2010, em visita a casa da mãe as lembranças enchem os olhos deste quarentão. A cobertura da casa acumula as provas das travessuras. Ainda está forrada de tocos de mangueira, como chicotes domésticos, a única forma de por na linha aquele menino tão inocente e puro.
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