Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

domingo, 27 de junho de 2010

Memórias (ou À Casa de Minha Infância)


Meus pais estão vendendo a casa. A casa de minha infância. Mas como?! Se lá ainda estou escondida atrás da porta esperando a chegada de papai do trabalho; ainda posso ouvir os latidos brincalhões de Pink – que há anos já alegra o dito céu dos cãezinhos -; rir e correr sem pressa com minhas irmãzinhas mais novas; sujar-me de terra úmida de orvalho.
Eles estão vendendo a casa. Precisam respirar novos ares, vizinhar novos vizinhos, habitar novos espaços. Mas permaneço ali, no quintal, com as outras duas. Sim, elas também estão ali ainda. Pequenas. Uma bem magrinha. Outra bem bochechuda. Brincando comigo. Saltitantes, sorridentes, as três. Sob o olhar doce de nossos pais, jovens, encostados ao muro daquela casa.
Dizem que vão demolir. Demolir nossos brinquedos jogados pela calçada; as ameixas amarelas; os abacates cremosos. Vão demolir nossos namoradinhos batendo palmas em frente ao portão; nossos sonhos flutuantes pelo ar; a chegada ofegante do colégio; o fazer do dever de casa sobre a mesinha da sala; a vinda da catequese.
Dizem que vão demolir a casa. Solto lágrimas e derramo gargalhadas. Demolir como?! Se estamos todos ali, como na infância, como sempre. Eu, elas, pai, mãe, Pink. Inconscientemente felizes.

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