Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Loucuras a Cavalo.

- Ô Zéfiro!!! Eu queria esse serviço pra ontem e você só me entregou hoje! Dessa vez passa...
Aproveitando a sorte do cavalo que magicamente ganhou vida pelo vento, monto sobre seu dorso de pelagem cinza brilhante e saio a galopar. Pois não é que, para minha surpresa, o danado voava! - Ainda bem! Penso depois de passado o susto. -Galopar aqui na praça da Ordem com certeza seria o maior estrago.
-Vamos cavalinho, vamos combater os animais urbanos que azucrinam tanto o nosso amigo Barba Ruiva! E felizes, lá fomos nós na noite morna, sentindo a aragem macia batendo em nossas caras de pau. Aproveitando da vantagem de estarmos muito distantes do solo pareceu covardia, mas não deixou de ser divertido.

Começamos combatendo as baratas. E que baratas! As vezes tinha dúvidas se eram baratas ou ratazanas. Eram baratas mesmo. As ratazanas segundo informações de um detetive muito confiável, pareciam gatos, e dos grandes. Godô, assim quis ser chamado o cavalinho, não falhava e levava-me na direção certeira daquelas pulguentas. Com minha arma a laser matava todas. Em minutos, a Praça da Ordem transformou-se num tapete preto, forrada por aqueles insetos nojentos que jaziam inertes.

Em seguida fomos à caça das ratazanas. Aí a coisa ficou complicada... - Godô, e se aquelas ratazanas do tamanho de um gato, não forem ratazanas e sim gatos? Sou míope, aqui de cima não consigo distinguir...
- Então é melhor deixar pra lá. Na dúvida não atacaremos!
- Tá bem. Agora vamos atrás das moscas que pousam nos salames todas as quintas feiras. Iniciamos uma nova batalha exterminando todas as moscas do pedaço, que acabaram fazendo parte dos cadáveres junto com as baratas.

- Terminamos Godô?
- Agora vem a parte mais difícil: combater as loucas tarântulas que invadem a casa da professora, enquanto ela protege nos braços, seu maior tesouro.
- Ah não! Morro de medo de tarântulas. Ainda mais quando são cabeludas e maiores que uma raposa. Não vou!
- Não me decepcione! Disse Godô, com a propriedade de uma experiente estátua que ganhou vida. Envergonhada, aceito o desafio. Voamos para casa onde as tarântulas atazanam. Com a coragem de uma guerreira acabo com todas num segundo. - Acho que podemos até extrair os pelos daquelas pernas cabeludas, fazer um tapete bem felpudo e vender na feirinha. O que acha Godô?
- São venenosas aquelas pernas. Melhor não arriscar!
- Então, acabamos a missão?
- Claro que não! Tem outros animais urbanos extremamente perigosos para combatermos.

De repente a lua, que apesar de nova no momento, por encanto ficou cheia, e de metida que é, invadiu meu quarto por uma fresta deixada por descuido na cortina. Escandalosamente, deixa o ambiente em tom prata e num sussurro indiscreto me faz ver que é um sonho...
Ou será que Godô, usando de seus truques mágicos, me dispensou da última missão e gentilmente me trouxe até aqui voltando a fingir-se de estátua?!

Ferdinanda Embrião.

Um comentário:

  1. Ceres,

    Divertidíssimo, bem-humorado, fluente, leve, rápido... Além de agradecer com um sorriso no rosto o massacre das tarântulas. Daria uma bela história ilustrada, fico imaginando a festa que faria um bom desenhista, já que nesse seu texto há uma característica que prima pela expressão exata das imagens. Despois conversamos sobre algumas palavras que podem ser limadas e outras outras questões. Abraço, até quinta, Monica.

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