Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A alta costura nos binários curitibanos


Crônicas Curitibanas

A nova moda da estação em Curitiba é guinchar carros e motos. Coleção introduzida com inúmeros binários, faixas amarelas e placas ovais. Moda clean em que os modelos dos carros só estão de passagem. Sempre de desfile. Sem chance de estacionar na passarela das ruas. Mas é claro que alguns estilistas insistem – por desatualização ou estilo retrô – na paradinha, melhor, na pose. E são esses estilistas que fazem a nova coleção da Diretran ficar bem na foto.

Moda como a dos agentes de trânsito, típicos críticos de estilo e glamour. São eles que confeccionam as tendências das avenidas. Como a agente que, sorridente, chama o reboque: “Atenção, tesoura para Punto vermelho, ano 2009, flex, trio elétrico, rodas liga-leves, na Brigadeiro com a Vicente”; ou “necessito urgente de gloss para Prisma prata na Visconde”.

Geralmente, esses códigos e manuais informais são combinados durante o almoço, quando até fotos dos artigos e vestidos – carros e motos – são trocados e comentados pelos especialistas: “Eu apreendi um gol”. “Démodé”. “Eu retive um C3”. “Esse tem estilo”. “Sabe que gosto de Clios e do Ka”? “Pois eu, há dois dias, apreendi um Jetta”, contou a agente como se participasse de um evento de Versace.

O curioso nesta nova moda é o público comum que vai nos carros e motos. Ele costumeiramente não sabe aderir às novas tendências com garbo e retidão. O tal manual de etiqueta. Como no caso do homem que teve seu Mini Cooper amarelo com faixas frontais azuis pedagiado por estacionar no Centro. Corrijo a imprecisão: …teve o fraque recolhido por vestir-se inapropriadamente em passarela central. Pois não é que o lord recusou a se despir daquela avenida. Não, não era desobediência à elegância. Ele apenas rechaçava o costume do caminhãozinho que o levaria. Bateu o salto: “Meu Cooper não vai neste Agrale”. Traduzindo: “Prada não combina com moda Renner”. E ficou neste “provador” até que chegasse um guincho cujo “corte” permitisse que o seu modelito pudesse ser exibido nos novos binários da cidade. É muito fashion.

Manolo Ramires


2 comentários:

  1. Caro Manolo,

    Enquanto flechas envenenadas de intolerância mútua chispam a tela na outra postagem, eis que nos brinda com essa sacada sensacional do cotidiano, com fina ironia e certo bom humor. Tudo o que precisamos em uma crônica e de um bom cronista.

    Parabéns guri.

    ResponderExcluir
  2. Corre sobre esta face cansada uma gotícula de satisfação. Desta alegriar em gozar a vida, proteger os incautos e aliviar este mundo tão pesado...

    ResponderExcluir