Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quarenta Minutos 2

Chego ao tubo 17:15h, saída da escola, tumulto, confusão, brincadeiras e etc. ...

Sobe e desce, fura tubo, empurra, empurra. Vem o expresso, meio no embalo todos entram e se separam.

No expresso mães e filhos ocupam vários bancos.

Sento-me no lugar da menor da turma.

Então, continua o bate papo, ligeiramente interrompido por mim.

- E aí, você vai ver a Su?

- Vou. Sabe onde desce?

- Sei, mas tá longe.

- Você vai entrar?

- Vou.

- Nossa! Esquecemos de trazer água mineral!

- Não dá nada, quando chegar lá eu compro.

- Será que tem onde comprar?

- Deve ter só que é o olho da cara.

- Sabe vou arrumar minha mala e deixar pronta.

- Que mala? A Nova?

- É aquela bem bonita.

- Eu falei pra Andréia que ela tava grávida.

- É eu sei, mas ela disse que não.

- Que nada, ela está passando mal direto, só não quer assumir.

- Ela está com o carinha?

- Acho que não, falei com a mãe dela e ela me garantiu que a Andréia não quer nem saber dele.

- É! Mas ela vai ver só daqui a nove meses.

- Toma, pega a menina!

- Menino venha cá! Senta aqui.

- A Milena é minha filha.

Rola de mão em mão uma maçã toda mordida, não se perde nada nem o cabinho e muito menos as sementes.

Passamos em frente à delegacia e em seguida recomeçam.

- Você sabe que o Luizinho está preso?

- Não quero nem saber.

- Ele estava preso nesta delegacia. Como será que é?

- Não sei! Uma vez uma amiga me disse que parece um túnel, bem comprido e sem claridade alguma.

- Que ruim né!? Você veio visitar ele?

- Não nem pensá!

- Duvido! É só ele ser solto que ele vai aparecê na sua casa.

- Não quero nem pintado de ouro.

- Eu vou visitá ele. Ele tá aqui?

- Não, foi pra penitenciária.

- Mãe, mãe, este é um homem grávido?

- Não moleque, não existe grávido. Esta tira diz que este lugar é preferencial para pessoas idosas, gestantes que nem a mãe, pessoas com criança de colo, deficientes e gordos há,há.

- Sabe, vou lá visitá ele só pra dizer que ele é um otário.

- É , mas daí ele vai ficar mais bravo do que já é.

- Escuta, você viu aquela mala nova que ganhei? Acho que vou por tudo dentro dela.

- Falta muito?

- Tá longe. Milena dê lugar pros outros.

E o texto que eu estava tentando ler – nada.

Enquanto isto o ônibus começa a lotar em cada tubo.

- Sabe acho que quero fazer magistério.

- E você vai ter tempo?

- Não sei não.

- Dá pra Milena esta cartela de adesivo.

- Milena, olha o que a mulher te deu.

- Nossa que bonito! Gatinhos né mãe!

- Vou primeiro colocar no meu celular, diz a mãe.

- Deixa eu ver? Fala a companheira de Baco de Milena.

- É, mas é meu.

- Próxima parada: Comendador Araújo.

- Desço.

- A porta será fechada ...

E o expresso segue em frente...

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