Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Quebra Cabeça.

Vejam: agora tudo é mar e mar. Tudo céu e céu. Tudo infinitamente azul.
E a imensidão das águas é tamanha que não é possível ver a linha do horizonte. Onde está o horizonte?

Lá está a ilhazinha longínqua, isolada porém abrigando tanta vida. E já fez parte de um continente um dia! Mas por alguma razão foi depreendendo e distanciando-se. Lentamente... Continuamente...

Lenta e continuamente de forma invisível para olhos que só conseguem ver o que é macroscópio. Inaudível, aos ouvidos que não escutam os gritos do silêncio. Inodora aos olfatos que desconhecem o odor acinzentado do medo. De maneira tépida para que a desesperança fosse reconhecida por tatos inexperientes. Insípida aos paladares que não detectam o sabor das águas que pedem um olhar. Enfim, imperceptível a todos os sentidos menos aguçados que já não reconhecem os alertas do sexto sentido.

E assim foi , se afastando e avançando mar adentro o pequeno pedaço de terra que sentia-se diferente do restante do continente. E o continente por sua vez, tentava distanciá-la cada vez mais reforçando a hipótese da estranheza sem compreende-la.

A principio, deslocava-se devagar com certa cautela. Até que um dia inesperada e inexplicavelmente um furacão lançou o pedaço de terra para muito longe ao mar.
O que vemos agora é uma pequena ilha perdida no oceano.

Se observarmos com atenção, de um plano mais alto como para uma foto de vista aérea, percebemos que está protegida pelas profundezas das águas com um tom azul escuro. Porém nas proximidades, há um contorno com uma coloração mais clara e límpida, com águas serenas e mornas que convidam para um mergulho seguro. E em seu redor, existe uma praia de areias brancas e macias aquecidas pelo sol. Estão vendo?

Com certeza, em algum lugar do continente ficou faltando um pedacinho de terra, da mesma extensão e formato dessa ilha perdida no oceano. Se fantasiarmos que o local onde esteve inserida manteve-se inalterado, apesar das intervenções impiedosas da natureza, estaremos concedendo-lhe esperança de um retorno.

Mas antes de tudo é imprescindível aguardar que uma chuva mágica, revigorante caia suave e continuamente sobre a ilhota e transforme sua frágil vegetação numa floresta densa, com árvores frondosas, fortes o suficiente para protege-la de qualquer agressão. Sábias e perpicazes para alertá-la dos engodos .

Então um vento impetuoso poderá deslocá-la carinhosamente, e como num jogo de quebra cabeça acoplá-la outra vez em sua fenda.

Ferdinanda Embrião.

Um comentário:

  1. Viajei pro meio do oceano agora,hein!
    Apesar de eu entender o porque do nome antes de terminar o texto,o final encaixou como sendo a única peça que faltava para formar o desenho final.
    Gostei bastante!

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