Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sonhos de um cão

Sou um cachorro sem nome,sem raça, sem coleira que anda sem rumo pelas ruas de uma cidade sem coração durante as horas,os dias, as noites a vida...

Eu e meus companheiros amamos e desfrutamos a nossa liberdade. Até então, eu latia dizendo que achava divertido as grandes emoções com que nos deparamos, contando apenas com incertezas, precariedades e perigos.Mas na realidade, eu e meus amigos caninos sempre escondemos uns dos outros grandes segredos:as nossas fantasias e temores.

Agora que o tempo passou e não sou mais tão jovem, essa vida de boêmio já não me faz a cabeça. Meu momento para essas loucas aventuras passou.

Na noite passada, talvez pelo efeito do vinho que roubamos do bar da esquina e entornamos tudo de uma só vez,sonhei enquanto dormia,as vezes sonho acordado também, com uma casa linda.Era a casa dos meus sonhos:uma residência com um quintal seguro, enorme enfeitado com grandes árvores, onde crianças bem cuidadas e amadas corriam.

Tinha um jardim com flores coloridas, e diariamente algumas delas eram colhidas pela mãe dos pequenos para enfeitar a sala de estar. Um papagaio percorria livre pelas árvores, e apesar de poliglota, não era fofoqueiro e nem metido a besta.
Não faltava o cheirinho delicioso de bolo de fubá, que tornava azuis as tardes de sábado.

Nas noites frias, eu podia dormir próximo ao calor de uma lareira admirando a luz quente, acolhedora e macia do fogo.Como não podia faltar numa casa, um gato folgado dormia ronronante sobre minhas costa. Mas era bom,pois me aquecia...
No verão eu dormia na varanda olhando as estrelas. As vezes sentia a luz da lua nos olhos. Ah, isso me lembrava a rua... Mas sem saudades.

Quando amanhecia, as crianças assim que acordavam corriam dos seus quartos e eram acolhidas e abençoadas por seus pais.E depois de um farto café da manhã, iam para a escola sempre brincando comigo e me chamando pelo nome que me deram.Como é bom ter uma identidade e ser único!

Quando não tinham aulas, faziam carícias nos meus pelos negros e diziam: - venha cachorrinho, vamos passear com a gente!
Nas horas de refeições havia uma deliciosa ração composta de carne, e até um osso de sobremesa... Que delicia!

Porém acordei e triste constatei que não passava de um sonho. Mas não vou chorar.Vou secar estas lágrimas teimosas, pois dizem que o cão escolhe seu dono.
Conheço uma casa na Rua dos Eucaliptos onde mora uma menina loura com sardas no rosto.Sei que ela se chama Carmencita. Pois vou parar na frente dessa residencia e quando a garotinha sair para brincar, vou latir com todo o meu charme fazendo cara de bom bicho.

Então, certamente ela vai dizer: - venha cachorrinho lindo. Vou cuidar de você!

Assim vou conseguir viver num mundo melhor que esse mundo cão que vivo agora.
AUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU...


Ferdinanda.

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