Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

domingo, 25 de abril de 2010

Celular na praça


Saindo do casarão para a praça, avistei uma senhora com ar de tristeza. Rodeada de sacolas estava sentada em um dos bancos ao redor da fonte. Passei adiante.

A tarefa solicitada era a de que andássemos pela feira ali instalada, em busca de alguma coisa que nos despertasse interesse. E que fosse inspiração para uma crônica.

Sem vontade muita vontade para a caminhada, olhei ao redor e avistei uma colega na barraca de pastéis. A ela me juntei. Pedido feito, sentamos para a degustação e um bate papo. Ao lado uma jovem mãe com duas crianças. Pequenas, no máximo três ou quatro anos. Noite amena, de um verão abrasador que chegava ao fim.

Que bonito, pensei comigo – vem com as crianças para um lanche, uma caminhada na praça, compras na feira. Menos por um detalhe. Ela não estava muito interessada na praça, no passeio, nas compras, nos filhos. Estes, brincavam num canto, ela os controlava com o olhar, mas a sua atenção estava mesmo no celular que mantinha colado ao ouvido falando em alto e bom tom. Coisas que naturalmente só interessavam a ela.

Que coisa irritante, disse a minha colega, com quem tinha dificuldades de conversar – interrompida a cada segundo pelos brados da senhora ao lado.

Ao celular, pessoas vem perdendo a noção de individualidade: a deles e a dos que os rodeiam. Que interesse há em se saber as particularidades umas das outras. Banalidades de suas vidas. Brigas e discussões. Meus ouvidos e todos os outros ouvidos, não merecem isso.

Pouco conversamos minha colega e eu. Quase impossível, a não ser que falássemos mais alto que ela. O intervalo acabou e voltei para a sala de aula sem saber sobre o que escrever. Aquela conversa ao celular tirou-me a concentração.

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