Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Quinta-feira treze.


Eis que saio à procura de respostas. Perguntas de fato, exatas, elaboradas não tenho. Ou as tenho aos montes. Depende. Vivo a perguntar. Por vezes não sei bem o quê, nem pra quem, nem por quê. É tudo meio obscuro. Mas pergunto, pergunto, pergunto. Desde os meus três anos. É, desde os três procuro respostas plausíveis para perguntas incertas.
Naquela noite de quinta-feira, saí pela feirinha com ouvidos atiçados. Mente inquieta. À espera de um sopro da sabedoria mercuriana. Embora nada de concreto tivesse perguntado, esperava uma resposta dele. Transbordava de ansiedade. Será que ele viria? Será que ele sabe soprar respostas mesmo sem perguntas exatas? Deve saber sim. Um deus sempre sabe das coisas.
Então me aventurei a andar por ali. Coincidentemente encontrei um colega de trabalho. Muito coincidentemente! Até então eu não sabia que se tratava de um colega de trabalho. Soube ali. Um bancário como eu. Padecedor do Banco do Brasil S/A como eu. Esperando por um sopro de Mercúrio como eu. Da conversa surgiram não poucas respostas para não poucas perguntas incertas que andava me fazendo a respeito do meu ofício de gosto duvidoso. Engraçado, vieram também algumas respostas, dicas úteis para minha eterna aflição: perder peso (sabe que me convenci a nem comer um pastel naquela noite!). Um pouco mais de prosa. Sai um pra cá, outro pra lá. Precisávamos nos concentrar. Era preciso ouvir o sopro do Oráculo. Por um momento pensei: será mesmo um colega bancário? Não seria ele o próprio Mercúrio?
Ando mais um pouquinho. Só mais um pouquinho. E de súbito acordo. Sim, pois eu só podia mesmo estar sonhando. O que fazia eu ali, em uma feira noturna, no Largo da Ordem, em Curitiba, em pleno século XXI, esperando por um sopro do tal Oráculo de Mercúrio?! Um tanto quanto cética, passo longe de crendices e superstições. Quem dirá acreditar em oráculos. Há tempos desenvolve-se Ciência. Pra quê? Pra que tanta pesquisa, tanto empenho? Pra acreditarmos em oráculos? Deus me livre! É até pecado - dizem.
Com tanta coisa melhor pra fazer, eu ali perdendo meu tempo com bobagens. Me benzo com o sinal da cruz. Desvio a escada. Sigo a caminho de casa rezando pra que nada me aconteça. Porque depois que quebrei aquele espelho...

Fabíola Rangel

2 comentários:

  1. Gostei da idéia de continuidade que há no final no texto, a gente meio que fica esperando mais.

    Mas se fosse eleger, talvez minha frase favorita seja "Um deus sempre sabe das coisas."

    Bem simples, mas estrategicamente posicionada é uma sentença.

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  2. A sensaçao de continuidade nos faz seguir atrás do que levou a quebrar o espelho,e isso eu gosto muito.O fato de você transcender o texto,viajar com ele e talvez até criar.
    Beijão

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