Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

terça-feira, 18 de maio de 2010

As almas mortas da Assembleia Legislativa


(Esta crônica contém Hyperlinks)


Eu acredito que os deputados e diretores da Assembleia Legislativa do Paraná devem considerar Chichikov seu grande guru neste momento. E explico. Chichikov é um grande personagem de Gogol cujas qualidades são repulsivas, mas toleráveis. Afinal, Chichikov é um herói dissimulado e cretino que se esconde na capacidade de ser perspicaz, meticuloso e audacioso. A nós interessa saber que Chichikov mui habilidosamente adquiriu fortuna e fama no lombo do povo, sempre se valendo das brechas estruturais do governo e do serviço público. Algo semelhante com o que fizeram conosco agora.

Mas o que fazia esse senhor além de andar bem vestido, de ter bom diálogo em diversos extratos sociais e possuir postura que impressionava todo mundo a ponto de ninguém desconfiar de sua vida pregressa? Ele simplesmente comprava servos falecidos para, de posse dessas almas mortas, registrá-las “em seu gabinete” e requerer seus vencimentos. Uma técnica tão antiga e tão atual, mas que só agora o nosso Ministério Público atentou para isso.

Por outro lado, também há um traço muito interessante de se observar em Chichikov. É a sua desfaçatez perante o flagrante. Cinismo dele como o dos agentes da Assembleia. O personagem de Gogol estava em constante viagem por “sítios e fazendas” de gente humilde em busca de trouxas para aplicar o seu golpe. Ele contava com a ignorância e desinformação alheia – assim como os Chichikovs atuais – para agir e pouco se importar em ser desmascarado conquanto que a notícia publicada não chegue aos currais eleitorais. Em suma, torcendo para que a notícia da TV não seja vista ou entendida claramente pelo eleitor. E assim agia indiferente a ser processado, pois controlava a lei, como agem os deputados que só farão algo se perceberem-se ameaçados nos votos.

Por fim, só espero que os Bibinhos e políticos não tenham o mesmo destino fortuito de Chichikov. Ele não foi preso. Também desejo que vocês leiam o romance de Gogol e não se deixem embair na condução deste caso como ocorreu com o estúpido Selifán.

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Manolo Ramires

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