Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

domingo, 9 de maio de 2010

Ciúme do vizinho do 1003 (Opus 7)

Vem cá, olha só como é a vida. Moro no apartamento 1103, da rua das oliveiras, número 100, o que perfaz uns 10 anos no próximo mês de julho. Faz é frio neste mês de junho em Curitiba, e se demora sempre um pouco mais no banheiro.
Dia desses não pude resistir, pois os vizinhos falavam alto, e pela tomada de passagem do banheiro (apartamento 1103) se escuta quase tudo o que acontece no apartamento 1003 abaixo. Eis o que ouvi:

“- Você está bonita hoje.
- Imagina, são seus olhos.
-Estranho, tem algo diferente em você hoje.
- Puxa, você me deixa sem jeito assim.
- Suas unhas estão perfeitas, sensuais.
- Fiz do modo como você gosta, a francesinha.
- E teu sorriso está radiante.
- Estou feliz, dormi bem...
.
.
.
- Seus cabelos estão com um cheiro tentador.
- É o condicionador que sempre uso.
- Onde vai?
- Ao trabalho... hoje tenho um café da manhã...
Apresentação para um antigo cliente.
- E precisa ir deste jeito?
- Como deveria ir?
- Sei lá, mas não precisa ser tão produzida.
Levou quase uma hora na frente do espelho.
- Você vê maldade em tudo.


- Não, só vejo os fatos.
- Que tal o fato que amo você. Não basta meu que-ri-do?
- Sim, mas é que hoje...
.
.
.
- Não me espere cedo hoje vou sair com as amigas...”

Senti a porta bater, e o som do bater do salto dela sumir apartamento adentro. Presumi, vai em direção a porta.
Como já estava de saída dou beijos na amada Amélia, que estava na cozinha, e tomei meu caminho. Fui à garagem pegar o carro, e eis que para minha não tão previsível surpresa; vejo quem? Quem? Ela, a vizinha do 1003.
Cara! A mulher tava linda, muito... foi mais do que um simples algarismo.
Vestia um conjunto social em vermelho, com blusinha branca, em que podia se ver as montanhas em pleno “V” de vitória, e como dizem os bons escritores, com um olhar dissimulado a la Capitu. O cheiro de fêmea sobrava. Apressada, como num trote, seus cabelos loiros seduziam e excitavam como o balançar de uma mulata.
Confesso, deu foi ciúme do vizinho do 1003, depois dó.

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