Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

domingo, 9 de maio de 2010

Ressurreição em vida (Opus 6)

Ontem estive a ler algumas notícias do jornal local, e o que é comum, fora poucas notas de felicidades tinha as constantes notícias de tristezas. Desta vez tratava-se da forte chuva que assola o Rio de Janeiro neste mês de março, com muitas pessoas desalojadas, perda de bens e entes queridos. Vem a tona, mais uma vez, que a vida é decididamente irruptiva.
Frente a tanta desgraça, que normalmente encaro com  serenidade e pesar, não sei, mas isto levou-me a refletir sobre minha morte, e tive a terrível constatação que venho morrendo aos poucos. Sou morto um pouco a cada instante pelas responsabilidades assumidas, pelas exigências perfeccionistas,... Esqueci de viver, de não perder tempo com implicâncias tolas. Quando isto se descobre, ou se toma consciência do fato, o impacto é semelhante ao que nossos patriotas sofrem no Rio. Os muros caem com  a enxurrada de lama que sempre viveu sobre nossas cabeças.
Dou-lhe provas. Hoje, a schnauzer de casa não passa da porta da cozinha, e sempre olha-me com medo. Quando o chamo, vem, mas vem de cabeça baixa, e devo dizer-lhe que parece uma saudação ao rei – estou me achando hen! Agora, quando vejo sua imagem em meus pensamentos, penso que o cachorro sou eu. A empregada, esta se apavora quando vou falar sobre as tarefas da casa, isto porque é somente a diarista e vai duas vezes por semana. Imagine o que não deve pensar de mim – “esse arrogante, vou botá-lo para lavar a privada... ninguém merece um cara assim.“. Meus filhos? Melhor não comentar, não admito ninguém se metendo com eles. Fique na sua. Tenho assim uma necessidade extrema de cuidar de tudo.
Estou sim, suicidando-me.
Pois bem, vou tratar da ressurreição em vida, pelos menos para à esperança de ir ao céu. Ter, pelo menos, direito da passagem no purgatório. Nada de deixar as coisas para depois, e os aborrecimentos vou engolir com a poesia, um sorriso. Vou dar atenção ao porteiro quando diz que a placa de meu carro é do seu ano de nascimento. Vejam só, coincidência, e eu que achava o cara velho...

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