Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

domingo, 9 de maio de 2010

Ninguém Merece (Opus 2)

Pudera foi de veneta. Resolvi caminhar após a sexta-feira desgastante no trabalho de funcionário público, e quando dei por mim reconhecia a cidade por outro olhar. Como sou um fiel depositário do sedentarismo o angulo do chão fez o andar reduzir. Os olhos, cansados das sombras do dia, assim puderam registrar o acontecimento neste final de verão. O destino levou-me a feira noturna do Largo da Ordem em Curitiba.
As poucas barracas daquele dia parecem que estão prontas para ir embora. Bem arrumadas, uns organizam os produtos, outros parecendo de luto, se debruçam sobre o que devem vender.
A brisa da noite acaricia todos os visitantes. Tem crianças com alegria de dar gosto, e adultos com assuntos que são acompanhamento para passarem o tempo. Há de tudo. Lugar para lanches, frutas, verduras, queijos e um mundaréu de coisas na barraca do Tide.
O Tide tem estatura mediana, calvo, barriga estilo barril de chope e um bigode tipo cortina de lábios. A caneta descansa na orelha esquerda. Aguarda o fechamento de um pedido para fazer as contas naquele papel de embrulho amarelado. O que chama atenção é as cores muito bem distribuídas. É de comer com os olhos.
Então meu senhor, parei e resolvi apreciar. O quê? Salame.
Sou doído por uma perna de salame. Deve ser coisa do DNA lá do interior… Analisei o tipo hamburguês, copa… mas o italiano, especialidade do Tide, foi o que me fisgou. Aquela perna brilhava, e tinha um ar de sedução. Mesmo longe podia sentir seu cheiro salgado. Foi dando água na boca. Estando cheio de gente, esperei. A água na boca foi aumentando, aumentando, aumentou.  Por fim atendeu.
Quando foi entregar a peça, a qual apontei com os olhos arregalados, a rapidez do feirante não deu tempo da recusa. Catei o embrulho e fui a caminho de casa. Agora o angulo do chão acelerava meus passos. Volta e meia enxugava os beisos, ainda ficando molhados.
Chego a casa e vou ao banho mais rápido do que de costume. Faço meu café, arrumo a mesa e no centro fica o salame, ao lado dos pães. Ansioso vou ao salame e ao abrir vem o choque. O que vejo meu senhor? Vi um ponto preto com asas brilhantes. Não acreditei, foi mosca no salame, e mosca no salame alheio ninguém merece.

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