Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ciúme de você

Francisco Berlusconi era uma cruza de português com italiano, morou por toda a vida no Bexiga. Aproveitando o boom econômico do Paraná na última década, veio de mala e cuia para Curitiba. Montou um restaurante e estava bem financeiramente.

Berlusconi gostava de circular pelo restaurante e cumprimentar os clientes. Certo dia bateu o olho numa bela mulher, daquelas que dispensam comentários ou quem sabe uma descrição mais apurada. Era, Ângela Sorella, uma típica representante de Santa Felicidade. Berlusconi apressou-se para saber mais do currículo da moça.

- Bom dia! Me chamo Francisco Berlusconi e sou o dono deste estabelecimento. Como se chama?

- Ângela Sorella, mas pode me chamar de Sorella, trabalho aqui no centro e gostei da comida daqui.

- Fico feliz, qualquer reclamação me procure! Prazer em conhecê-la!

- Obrigada, foi um prazer também.

Berlusconi suava frio ao despedir-se mas sentiu que a moça foi receptiva e havia uma pequena chance de “se dar bem” num futuro próximo.

Os dias passaram, férias, carnaval e começou o ano, em março. Berlusconi doente pelo “Parmera”, buscava na tabela do campeonato, algum jogo do seu time do coração, aqui em Curitiba. E não deu outra, Atlético e Palmeiras iriam se encontrar no dia cinco de abril. Os olhos do rapaz brilharam: - vou convidar a Sorella para ir ao jogo! Pensou.

Ingressos comprados, coragem adquirida, Berlusconi aguardou a moça sentar-se à mesa, aproximou-se rapidamente e, procurando manter o controle, tascou:

- Bom dia Sorella, vejo que tá com fome hoje!

- Estou sim, não tomei café pela manhã...

- Quero fazer um convite, se não for atrapalhar é claro.

- Convite?

- Sim, domingo tem jogo do Parmera aqui em Curitiba e gostaria de convidá-la para me acompanhar. Aceita?

- Hummm... domingo não tenho nada para fazer... aceito!

- Ótimo! Vou comprar os ingressos! Bom, vou deixar você almoçar então!

Berlusconi saiu feliz da vida afinal Sorella seria uma excelente companhia para esse jogo tão aguardado.

Domingo, cinco de abril, o moço aguardava a bela italiana em frente ao estádio, como haviam combinado nos telefonemas que trocaram nesse período. De repente, Berlusconi avistou uma moça, toda de verde, identificou o fardamento do grande Parmera que cobria o corpo dela. Ela aproximou-se e ele pode notar também o short minúsculo, de cor verde que Sorella estava usando.

- Porco dio, Sorella! Você me aparece com esse shortinho pra assistir o jogo?

- Bom dia Francisco!

- Não sei se vai ser um bom dia...

- Que houve, Chico? Amaciou a moça...

- É´... esse shortinho que você está usando. Vou acabar me incomodando!

- Chico, tá calor!

- Bom, fazer o que! Vamos entrar?

Seguiram os dois e acomodaram-se no mais belo meio-estádio do país. Ficaram naquele cantinho destinado aos adversários. Berlusconi olhava pra cima, passavam algumas nuvens. Por via das dúvidas andava com o kit Curitiba, para as eventualidades não tão eventuais como chuva, sol, frio, calor e vento, que acontecem ao mesmo tempo, no mesmo dia.

Começou o jogo!

Chico e Sorella formavam um belo par. Ela um belo par de pernas evidenciado pela falta de pano sobre elas. Ele, aquela mistura de português com italiano, meio vermelho devido ao vinho ingerido anteriormente, porque na Arena só servem água mineral.

- Goool! Grita o narrador, meio sem graça, com noventa por cento do estádio calado.

- É´ goooollll do Parmera! Grita Berlusconi, que aproveita e abraça a Sorella que retribui. Ela pula, rebola e canta!

Terminado o primeiro tempo, os dois seguem para o barzinho do estádio e bebem bastante água, afinal ainda faltam quarenta e cinco minutos de jogo.

De volta ao lugar escolhido, sentam.

- Chico empresta o rádio pra eu escutar os comentários?

- Claro! Fica com ele só me dá um fiozinho quando começar o jogo.

- Ta´, te dou um fiozinho...

Era impossível que a moça passasse desapercebida naquele pequeno espaço. Torcedores e integrantes da Mancha Verde já haviam prestado atenção naquele shortinho.

E seguiu o segundo tempo. O jogo estava eletrizante. O Atlético atacando direto, o Palmeiras se defendendo e buscando o contra-ataque. Bola na trave. Berlusconi roendo as unhas. O fiozinho caiu da orelha, ele roeu parte dele.

- Gooooolllll, do Palmeiras! O estádio emudeceu.

Torcedores do Porco, a Mancha Verde, Chico e Sorella foram à loucura!

- Esse é meu Parmera! Dizia Chico enlouquecido.

De repente, na cadência da batucada presente, o estádio ouve:

- Sorella, Sorella, Sorella! Era a Mancha Verde com seu novo grito de guerra!

Berlusconi enraivecido gritou:

- Mas que falta de respeito, seus... porcos!

Pegou a moça pelo braço e saiu esbravejando do estádio. O radinho? Ficou pelo caminho, com o fiozinho roído.

Já na rua, passa um carro tocando uma canção do Roberto Carlos. Sorella olha para o rapaz e diz:

- Ah, Chico você está com ciúmes?

- Tô sim, tô montado num porco!

- Da próxima vez vê se vem de vestido bem comprido ouviu?

- Ta´ Chiquinho, se acalme!

- Chiquinho, coisa nenhuma vou esperar aqueles tarados aqui!

- Chiquinho, vamos embora, não vale à pena, você vai morrer.

- Morrer que nada, eles vão ver só o peso do meu braço.

- Chiquinho, vamos embora? Vamos pro Shopping comer uma pizza?

-Tá bom, mas antes você vai trocar esse shortinho indecente, antes que eu vire um...

- Porquinho violento? Perguntou Sorella carinhosamente.

- É... respondeu o moço, meio sem graça!


Gerson Vieira - 06/05/2010

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