Blog dos participantes da Oficina Crônicas: entrevistas com o cotidiano do Setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba - 2010.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Confiar, mas Conferir

Vou contar uma coisa pra você amigo: fui traído descaradamente há pouco tempo. Nunca esperava por esta barbaridade mas aconteceu... E pode aguardar pois se a minha me traiu, a sua vai fazer o mesmo com você. É uma questão de tempo. Não confiem! Fiquem alertas pra não passar por situação semelhante a que passei...
Temos que nos unir, por isso vou relatar o que me aconteceu por ter depositado todos os créditos na malvada que eu vivia exibindo como ótima parceira.

A empresa onde trabalho, estava encaminhando os homens para fazer exame de próstata. Era uma campanha de prevenção.
- Não vou fazer este exame! Disse a um colega.
- Que bobagem companheiro. Hoje em dia é comum fazer este exame. Todos os homens fazem. Não tem nada de mais.
- Mas onde é que eu vou fazer isso?
- Vou lhe dar o cartão de um Urologista excelente. Um grande profissional. Além de me dar o cartão com o endereço, Astolfo, explicou o procedimento durante o exame detalhando o odioso toque retal. Mas falou também da extrema importância de fazer o bendito.
- Nem precisa me dar o cartão. Só me diga o endereço e vou lembrar.
- Tem certeza?
- Claro, minha memória é de elefante. Eu guardo tudo!
- Mesmo assim fique com o cartão: Rua 21 de Abril 2432. O telefone está em baixo.
- Está bem. Já que é pra fazer então vamos lá!

Imediatamente liguei marcando a consulta com o Urologista para aquela mesma tarde. Guardei o cartão em algum lugar sem prestar atenção onde.
Lá vou eu em direção ao consultório do especialista. Não estava com o cartão mas lembrava o endereço: Rua 24 de Maio 2342. O consultório era verde musgo com janelas altas. Entro... A recepcionista me acolhe com um sorriso. Procura meu nome na agenda...

- Tem certeza que está com a consulta marcada para hoje?
- Claro! Se não for hoje não volto mais!
- Calma Senhor! Não estou encontrando seu nome. Minha colega da manhã deve ter esquecido de anotar seu nome.
- Então vou embora. Não quero mais fazer nada!
- Calma... Faltou um cliente do próximo horário. Vou encaixá-lo.
Pediu que eu assinasse alguns papéis e entrou na sala que deveria ser o consultório do médico.
Eu tremia. Minhas mãos geladas suavam. Para relaxar mexi na carteira. Derrubei todos os papéis que estavam ali dentro. Mal deu tempo de juntá-los e ela volta sorridente: - Pode entrar. Dr. Astrogildo está a sua espera!


- Boa tarde Doutor!
- Boa tarde jovem. Pode deitar ali- disse apontando-me para um sofá estranho. -Fique calmo.
- Preciso tirar a calça?
- Contenha seus impulsos! Pode tirar os sapatos se quiser, e deite-se ali.
Sem entender nada obedeci. Tirei os sapatos e deitei.

- É a primeira vez que consulta esta especialidade?
- Sim. E já estou arrependido.
- Já desejou matar seu pai alguma vez?
- Já, aos nove anos, quando brincávamos de guerra com uma espingardazinha d'água.
- Já desejou alguma coisa com sua mãe?
- Quando era garoto desejei que ela viajasse, pra eu ir numa festa que ela tinha proibido.
- Diga tudo o que lhe vier na cabeça.
-Tudo o que lhe vier na cabeça!
- Diga tudo o que sentir vontade.
- Tudo o que sentir vontade!!!!
- Assim não dá! O Senhor está sendo rebelde!
- Eu, rebelde?!
- Está bem. Começo uma frase e o senhor completa, certo?
- Bem... Certo... Mas...
- Uso binóculo para...
- Escuta aqui Doutor, o que esse binóculo tem a ver com minha próstata?!!!
- Ideia fixa. O Senhor tem ideia fixa!
- Isto aqui é uma maluquice! O Senhor é um maluco! Eu vou embora!!!!

Saio da sala cuspindo marimbondos. Na recepção a jovem sorridente me aborda e diz:
- O Senhor deixou cair este cartão antes de entrar no consultório. Acho que é o endereço do seu Urologista.

Por isso juro que de agora em diante nunca mais vou confiar cegamente em minha memória.

Um comentário:

  1. Quase impossível não se colocar no lugar do personagem e participar e participar do sufoco do pobre.
    Divertidíssima!!!

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